O DESEMPREGO EM 2015
Prever o desemprego é um exercício
arrojado. Muitas variáveis influenciam o seu nível. Contudo, observando o
quadro econômico atual, acreditamos ser possível apresentar uma estimativa
razoável de sua tendência em 2015, pois muitos dos seus determinantes são
conhecidos, como os citados a seguir.
Nos últimos anos, as taxas de
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) têm declinado bastante. Para a
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil
crescerá 0,3%, em 2014, e 1,4%, em 2015 - valores irrisórios para manter a taxa
de desemprego no nível atual (5%).
A criação de empregos continua frágil.
Entre janeiro e agosto de 2014, foram gerados cerca de 750 mil postos de
trabalho formal em todo o Brasil - uma redução de 32% em relação ao mesmo
período de 2013. Estima-se que, até o fim deste ano, será gerado cerca de 1
milhão de empregos - bem abaixo dos 2,5 milhões criados em 2010.
O impacto do PIB na geração de emprego
vem diminuindo ano a ano. A relação entre as variações do emprego e as
variações do PIB (elasticidade emprego-PIB), que em 2002 era de 1,4, caiu para
-1,4, em 2012, uma redução colossal. Isso significa que, mesmo desconsiderando
o baixo crescimento do PIB, o sistema produtivo vem demandando cada vez menos
mão de obra (José Paulo Z. Chahad e Rafaella Gutierre Pozzo, Mercado de
trabalho no Brasil na primeira década do século XXI: evolução, mudanças e
perspectivas, revista Ciência & Trópico, 2014), por força da intensificação
do uso de métodos e de processos que poupam trabalho, o que fará aumentar o
desemprego.
O quadro de inflação crescente poderá
influir no nível de emprego e gerar desemprego em 2015. Mesmo porque, o custo
de combater a inflação tem crescido muito. Inúmeros estudos indicam que a Curva
de Phillips (que mostra uma relação inversa entre inflação e desemprego) está
cada vez mais "achatada". Isso significa que, nos dias atuais,
combater a inflação gera muito desemprego.
É notória a anemia dos investimentos
que decorre de um quadro desfavorável da economia no momento atual. Segundo
estimativas do Ibre/FGV, a Formação Bruta de Capital Fixo em 2014 cairá cerca
de 8%, levando a taxa de investimentos com relação ao PIB para 17%, bem abaixo
do seu potencial. Convém lembrar que, em 1989, os investimentos chegaram a
quase 27% do PIB! O desestímulo aos novos investimentos não se reverterá no curto
e no médio prazos, o que deve comprometer a geração de empregos em 2015, com
efeitos perversos no campo do desemprego.
Com a estagnação da economia e o
aumento da inflação, haverá uma intensificação da deterioração da renda
individual e das famílias. Os que hoje estão fora do mercado de trabalho,
apesar de terem idade para trabalhar (jovens, mulheres e idosos), passarão a buscar
emprego, o que forçará a taxa de desemprego para cima.
Outro elemento a considerar como fonte
potencial de elevação do desemprego em 2015 refere-se à conjuntura
internacional. A recuperação americana prossegue em ritmo lento. A China está
desacelerando, haja vista a queda na produção industrial, que recuou 6,9% em
agosto de 2014, em relação ao mesmo mês do ano anterior. O Japão continua em
recessão, pois seu PIB se reduziu 1,8% no terceiro trimestre deste ano. A zona
do euro mostra baixo crescimento (0,8% em 2014). E, nos países emergentes, o
crescimento também é lento por causa do baixo nível de produtividade e da queda
dos preços das commodities.
Em suma, para o nosso desgosto, como
pesquisadores do mercado de trabalho e cidadãos brasileiros, vemos com tristeza
uma iminente elevação da desocupação neste final de ano e ao longo do próximo.
Mesmo com um choque de gestão do governo e uma forte correção dos problemas
atuais, será difícil de evitar uma elevação do desemprego em 2015. Essa é a
leitura mais crítica que fazemos das atuais condições da economia brasileira.
Por José Pastore e José Paulo
Chahad. Presidente e membro, respectivamente, do Conselho de Relações do
Trabalho da FecomercioSP.
Artigo
publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 07/10/2014, página B02. - Via:
http://www.fecomercio.com.br/
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