BRASILEIRO
QUE VIAJA PARA FAZER COMPRAS NA MIRA DA RECEITA
Os
brasileiros que viajam ao exterior para fazer compras estão na mira da Receita
Federal. O Fisco trabalha no desenvolvimento de um sistema que promete ser um
"big brother" dos passageiros internacionais. A ideia é que, na
chegada de cada voo, os fiscais da aduana já tenham em mãos não apenas o nome
de cada passageiro, mas também a profissão, lugares que visitou nos últimos
meses e quantas vezes. Com isso, será possível identificar aqueles com maior
probabilidade de terem estourado o limite de isenção de US$ 500 para produtos
comprados fora do país trazidos na bagagem.
Segundo
o subsecretário de Aduana e Relações Internacionais da Receita, Ernani
Checcucci, a ideia do sistema, que está em fase de testes e deve ser
implementado em todos os aeroportos em 2015, é dar maior eficiência ao trabalho
de fiscalização. Na hora do desembarque, a Receita já terá feito uma seleção
prévia dos contribuintes que precisarão necessariamente passar pela verificação
de bagagens. O sistema será montado com informações que a própria Receita já
tem e com dados de viagem que serão repassados pelas companhias aéreas.
"O
sistema ajuda a montar um perfil dos viajantes de modo que a Receita possa
selecionar melhor os contribuintes que vai fiscalizar. O processo é mais
eficiente e ágil", explicou Checcucci.
Segundo
balanço da área aduaneira, no primeiro semestre de 2014, 10,6 milhões de
passageiros desembarcaram nos aeroportos brasileiros em voos internacionais. Em
média, passaram pela revista de bagagem 130 viajantes por voo. O total pago em
tributos pelos não declarantes (pessoas que não declararam mercadorias, mas
foram paradas pela fiscalização) somou R$ 129,6 milhões. O valor é mais que o
dobro do registrado no último semestre de 2013, de R$ 49,2 milhões.
O
tributarista Ives Gandra Martins avalia que o novo controle da Receita Federal
pode ser considerado uma invasão de privacidade, uma vez que o Fisco vai
solicitar informações que fogem de sua competência. Ele avalia que o
acompanhamento dos dados de viagem caberia à Polícia Federal:
"Hoje,
as pessoas têm cada vez menos privacidade. A Receita tem mais informações sobre
os contribuintes do que eles imaginam. O Fisco conseguiu, por exemplo, passar a
ter acesso ao sigilo bancário dos contribuintes sem ordem judicial. Isso chegou
a ser questionado no Supremo Tribunal Federal (STF), mas a ação nunca foi
julgada. Na minha avaliação, esse é um caminho irreversível."
O
ex-secretário da Receita Everardo Maciel diz que o trabalho de verificar
bagagens não pode ser universal e, por isso, é preciso que haja um esforço na
hora de escolher quem passará pela revista.
"É
uma forma de separar o joio do trigo. Uma fiscalização não pode ser universal,
ela tem que ser feita por amostragem. É normal que a Receita escolha critérios
para selecionar os contribuintes. Isso é o que ocorre, por exemplo, na malha
fina do IR. Lá, o contribuinte pode ficar retido se tiver muitos gastos com
saúde, por exemplo."
Já o advogado Felippe Breda, responsável pela área de Comércio Exterior e Direito Aduaneiro e associado do escritório Emerenciano & Baggio, não vê invasão de privacidade dos contribuintes. Ele lembra que a Receita já tem acesso a dados muito mais sensíveis das pessoas físicas, como sua movimentação financeira. Para ele, a medida ajudará a incrementar a fiscalização. Além de identificar se o viajante excedeu a cota de US$ 500, os fiscais poderão cruzar dados de viagem com a renda declarada para verificar se aquele contribuinte está fazendo gastos incompatíveis com seu padrão de vida.
A
fiscalização em aeroportos não é a única área em que o Leão quer avançar.
Segundo Checcucci, a Receita também vai apertar a fiscalização nas compras
feitas pela internet no exterior. Ele explicou que as remessas postais (que são
entregues pelos Correios) são o maior desafio, pois a estatal não tem dados
detalhados sobre quem está vendendo e quem está comprando.
Por
isso, a ideia agora é trabalhar numa integração com os Correios de outros
países para conseguir uma troca de informações que permita um controle maior
sobre esse tipo de transação. Checcucci lembrou que as remessas postais crescem
a cada ano. No primeiro semestre de 2014, por exemplo, o total chegou a 10,6
milhões, o que representa um crescimento de 17,2% em relação ao mesmo período
do ano passado.
Já
a arrecadação tributária decorrente dessas remessas somou R$ 146,67 milhões,
valor 22,2% maior do que o do primeiro semestre de 2013.
Checcucci
informou que também houve um aumento nas apreensões de mercadorias no país. O
total registrado entre janeiro e junho de 2014 somou R$ 889,8 milhões, o que
representa um crescimento de 20,59% em relação a 2013, quando as apreensões
somaram R$ 737,9 milhões. Nesse número estão todas as mercadorias apreendidas
pelo Fisco em portos, aeroportos e pontos de fronteira, como a Ponte da
Amizade, em Foz do Iguaçu (PR), principal via de acesso entre Paraguai e
Brasil.
Segundo
o subsecretário, o total das apreensões em 2014 pode ser recorde, superando não
apenas o montante de R$ 1,681 bilhão registrado em 2013, mas os R$ 2 bilhões de
2012, quando a Receita realizou uma operação especial em que foram apreendidos
bens de alto valor como veículos de luxo e helicópteros.
Mais
uma vez, os produtos com maior número de apreensões foram os cigarros ilegais,
com R$ 234,7 milhões. Em segundo lugar ficaram os eletroeletrônicos (R$ 60,5
milhões), seguidos por veículos (50,16 milhões) e artigos de vestuário (R$ 45,2
milhões).
As
regras para os viajantes
Cota:
Viajantes internacionais têm cota de isenção de US$ 500 para compras no
exterior trazidas na bagagem se ingressarem no país por via aérea. Por via
terrestre ou fluvial o valor é de US$ 300. Se a cota for ultrapassada, é
preciso pagar imposto de importação, cuja alíquota é de 50%;
Duty
free: Há ainda uma cota de isenção adicional de US$ 500 para compras em lojas
francas (duty free shops) de portos e aeroportos;
Quantidades:
Existem limites para as compras feitas com isenção: 12 litros para bebidas alcoólicas,
10 maços para cigarros, 20 unidades de bens de pequeno valor desde que não
existam mais de 10 unidades idênticas;
Sem
imposto: Bens de consumo pessoal em quantidade compatível com a duração da
viagem, como livros e jornais, artigos de vestuário, calçados e óculos usados
na viagem, uma máquina fotográfica, um celular e um relógio usados na viagem;
Paga
imposto: Notebooks e filmadoras novos não fabricados no Brasil não são isentos
e serão tributados
Fonte:
Diário de Pernambuco - Via: http://www.jornalcontabil.com.br/
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