ANO
NOVO TRAZ DESAFIOS PARA EMPRESAS
A temporada de 2015 começa com a
expectativa em alta, em função do fim do Regime Tributário Transitório (RTT),
que torna obrigatória a adoção dos padrões internacionais de normais contábeis.
Quem nunca fez uma
daquelas listas de resolução de ano novo? A cada troca de calendário,
renovam-se as promessas. Fazer dieta, largar algum vício, trocar de emprego ou
aprender uma atividade nova são apenas algumas das metas que muitas pessoas se
impuseram na virada de 2014 para 2015. No caso da área contábil chegou a hora
das empresas brasileiras tirarem do papel algumas promessas que já vinham sendo
adiadas há algum tempo, como a adoção das normas internacionais e a preparação
para o funcionamento do eSocial.
O padrão internacional das
normas contábeis foi introduzido em 2007 no Brasil. Entretanto, para que as
empresas diluíssem os custos das mudanças e fossem se adaptando à nova
realidade aos poucos, foi instituído o Regime Tributário Transitório (RTT). Esse
modelo terminou com o início de 2015, conforme determina a Lei 12.973, de maio
de 2014. Portanto, agora não resta outra alternativa a não ser seguir o novo
padrão nas demonstrações contábeis. “É uma mudança profunda, que vai ter
efeitos perenes a partir desse ano. Todas as empresas, obrigatoriamente,
precisarão observar as normas contábeis internacionais”, enfatiza o advogado
tributarista Vinicius Piazetta, da Pactum Consultoria.
A partir de agora,
as companhias necessariamente precisam aumentar a transparência em relação às
suas contas. O fim do RTT traz novas situações em relação à apuração de
receitas, custos e despesas. Um dos principais pontos diz respeito aos juros
sobre capital próprio. “Essa é uma forma comum de as empresas pagarem seus
acionistas. E as regras que geram esse juros sobre capital próprio mudaram. É
preciso estar atento”, destaca Piazetta. Nesse sentido, o especialista acredita
que os balanços, antes feitos para os sócios das empresas entenderem, agora
trarão uma linguagem voltada para o investidor.
Como a adoção das
normas internacionais já estava prevista há alguns anos, muitas empresas
buscaram se adaptar ao modelo ao longo desse tempo. No entanto, uma série de
companhias deixou a preparação para a última hora, podendo encontrar dificuldades
durante esse ano. “A penalidade para quem não se adaptar é o cálculo equivocado
dos tributos, o que pode gerar autos de lançamento por parte da Receita Federal
e multas. Assim, a empresa poderá ter de pagar até o dobro do imposto devido”,
lembra o contador Márcio Silveira.
O descumprimento da
entrega das obrigações do Livro de Apuração do Lucro Real digital (eLalur) à
Receita Federal, por exemplo, poderá gerar multas de 0,25% por mês-calendário
ou fração do lucro líquido antes do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e
da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Em outras situações,
dependendo dos erros cometidos, poderá haver litígios societários,
questionamentos judiciais e até mesmo a responsabilização dos sócios.
Para Silveira, é essencial
fazer um planejamento tributário, pois a lei poderá trazer particularidades
para cada tipo de empresa. “O impacto será grande em 2015. Para algumas
empresas do lucro presumido, pode ser melhor realizar a migração para o lucro
real ou vice-versa”, complementa.
O contador Mário
Antonio Karczeski constata que o fim do Regime Tributário Transitório é a maior
mudança contábil no País dos últimos anos. “Acredito que as empresas não se
prepararam o suficiente neste período. Os próprios contadores não alcançaram um
grau de capacitação suficiente sobre a lei e isso vai ter que ocorrer com a
legislação em andamento, agora em 2015”, aponta.
Contadores
devem estar mais atentos ao eSocial
Depois de uma série
de prorrogações em relação ao seu prazo de vigência, o eSocial deve finalmente
deslanchar em 2015. A expectativa é de que, ainda no início do ano, entre o
final de janeiro e fevereiro, seja disponibilizado a versão final do manual com
instruções e os layouts para que as empresas se adaptem. A partir daí, se iniciaria
uma etapa de preparação, que culminaria no início das operações em 2016.
“Tivemos de esperar
um pouco em face das últimas medidas provisórias que foram editadas no início
do ano. O cronograma inicial é que o sistema entre em pré-produção no segundo
semestre de 2015 e inicie a produção de forma facultativa a partir de 2016. A
obrigatoriedade será escalonada”, destaca Clóvis Peres, chefe da divisão de
escrituração geral de fiscalização e da coordenação geral de fiscalização da
Receita Federal do Brasil.
Peres diz que ainda
é cedo para se falar em penalidades para as empresas que não se acostumarem ao
modelo. “Precisamos primeireiramente implementar e testar o sistema. A partir
daí, teremos um calendário de substituição gradativa. As penalidades que estão
na legislação hoje e que se referem a descumprimentos específicos na prestação
de informação seguem vigorando”, enfatiza. Dessa maneira, o dirigente destaca
que o eSocial não inova no campo legislativo, mas apenas traz facilidade na
prestação da informação solicitada pelos órgãos fiscalizadores.
O contador Celso
Luft lembra que as grandes empresas, em geral, já iniciaram sua preparação ao
eSocial. No entanto, as pequenas e médias ainda não têm dispensado tanta
atenção ao tema. “Existe um certo descrédito, em função das constantes
prorrogações”, acredita. O especialista destaca que a iniciativa vai impactar
profundamente todas as companhias, principalmente, os departamentos de recursos
humanos. “Todas as exigências já estão previstas na legislação. O eSocial,
porém, vai acabar com o jeitinho, em situações que algumas empresas não cumprem
atualmente”, enfatiza.
Mercado
se prepara para fornecer novos sistemas integrados
Às vésperas de o
eSocial entrar em vigor, as empresas de Tecnologia de Informação (TI) procuram
oferecer soluções de recursos humanos atualizadas para seus clientes. A
tendência é de que muitas empresas adquiram novos sistemas ou atualizem as
versões que já utilizam. Como a legislação não está em vigor, as vendas de
plataformas não atinge um patamar elevado. Mesmo assim, muitas companhias
buscam fornecedores.
“Cerca de 70% das
ligações para as nossas equipes de telemarketing são de clientes pesquisando
soluções para o eSocial. Eles fazem bastante questionamentos. Apesar da
obrigação ainda não estar em vigor, ela está sendo discutida nas empresas”,
salienta Edson Lopes, gerente de inteligência fiscal da Alterdata, empresa que
fornece plataformas digitais de recursos humanos. Segundo o dirigente, não será
oferecida uma alternativa de software exclusiva para o eSocial. O que é
disponibilizado para o mercado é um sistema de gerenciamento de RH, que
incorpora as novas funcionalidades exigidas.
Nesse sentido,
Lopes ressalta que houve uma padronização. “Antes, o Caged, a Rais, exigiam um
determinado volume de informações. Agora, tudo está conciliado em uma regra só,
e isso foi incorporado ao sistema”, compara, lembrando que o software faz a
ligação direta com o Fisco. A solução tem um custo inicial de R$ 3 mil, podendo
atingir valores maiores, dependendo da necessidade de cada empresa.
A busca por
informações tem partido mais por parte das grandes companhias, constata a
gerente da ADP, Angela Rachid. “As grandes empresas estão se movimentando
bastante, mas as pequenas e médias nem tanto. Não sinto a mesma preocupação,
por parte delas”, diz, lembrando que o eSocial atingirá todos os empregadores,
independentemente, do seu porte. Desenvolvedora de soluções para a área de RH,
a companhia integra o grupo de trabalho do governo federal sobre o tema há três
anos. A mais recente reunião ocorreu em dezembro. Segundo Angela, não há
previsão de novos encontros.
Por Fernando Soares
Fonte:
Jornal do Comércio - Via: http://www.contadores.cnt.br/
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